E porque a árvore?
Porque ela age como deveríamos se fôssemos todos sãos. Ela finca suas raízes, sua base, sua estrutura na terra para que possa seguir, dia a dia, seu lento e ininterrupto caminho em direção aos céus. Porque para a árvore não existem dicotomias entre a mãe terra (matéria) e o pai céu, como não existe mente sem corpo, como não existe cuidado interno sem cuidado externo, como não existe mundo externo - todo o vasto e infinito espaço ocupado por todas as outras árvores e todos os outros seres e todo o resto do universo - sem uma delimitação muito clara de que existe um espaço interno - o tronco, a seiva, a vida.
Porque a árvore? Porque a árvore age como deveríamos. Se fôssemos todos sãos.
Quando armo uma árvore de natal, às vésperas de um ano que se vai, lembro de armar meu eixo interno, meuminimundo, minha retrospectiva de amores, fatos ações e desejos (cumpridos ou em latência). Quando vejo uma árvore lembro de um totem numa sociedade tribal, lembro do eixo doador de sentido para toda aquela realidade ao redor. Quando vejo uma árvore me vêm uma ridícula ponta de admiração e inveja por sua integridade, afinal o meu eixo doador de sentido para a realidade externa não tem essa coerência, essa vivacidade, esse alinhamento perfeito aos ventos e às intempéries, não é flexível, maleável nem ordenado como uma árvore. Ver a árvore e seu caminho do solo ao céu sem esquecer ou renegar nenhum dos dois pontos, é uma ode à vida. À vida que teríamos, se fôssemos todos sãos.
Renato Kress